Este artigo apresenta a proposta de implantação de uma Unidade de Recuperação de Energia (URE) com capacidade de 2.300 toneladas por dia de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), integrada à produção de biodiesel, hidrogênio verde, oxigênio, energia elétrica e alimentos. O projeto transforma um passivo ambiental em um ativo estratégico, combinando inovação tecnológica, impacto socioambiental e retorno econômico sustentável (ver vídeo URE/WTE vídeo – jnglês e URE/WTE – portugues).
Resultados Econômico-Financeiros
O estudo demonstra a robustez do empreendimento:
- CAPEX estimado: US$ 360,75 milhões
- TIR anual: de 16,37% a 23,64%, dependendo da produtividade e preços
- Payback: entre 7,0 e 9,3 anos (incluindo 3 anos de construção).
- ROI: cerca de 22,27%.
- Custo de produção do biodiesel: competitivo (US$ 0,353 – 0,371/litro).
Mesmo em cenários conservadores — sem créditos de carbono, sem receita de recicláveis e sem cobrança de gate fee — o projeto se mantém atrativo.
A URE aplica rotas tecnológicas já comprovadas, como gaseificação de baixa temperatura, pirólise catalítica e síntese química, possibilitando a geração de combustíveis de segunda geração com alta eficiência energética e baixas emissões de carbono.
Escalabilidade e Impacto Estratégico
O modelo proposto é totalmente escalável e replicável em diferentes regiões do Brasil, o que amplia seu potencial de impacto para além da região metropolitana de Manaus. Cada URE implantada reduz drasticamente a quantidade de RSU enviado a aterros sanitários, prolonga a vida útil dos aterros existentes e cria um ciclo sustentável de aproveitamento dos resíduos urbanos.
Um ponto essencial é que as prefeituras não terão acréscimo de despesas, mantendo os contratos com os aterros sanitários até o fim de suas respectivas vidas úteis. Além disso, o modelo pode se tornar um atrativo para os próprios aterros, que poderão integrar-se a novos empreendimentos de valorização de resíduos, sem gerar danos ambientais.
Essa transformação do passivo em ativo converte resíduos em combustíveis, energia e alimentos, agregando valor econômico a algo que hoje representa apenas custo para os municípios. A replicação do modelo em larga escala pode significar:
- Redução da dependência brasileira de combustíveis fósseis importados;
Maior segurança energética e política, fortalecendo a soberania nacional; - Desenvolvimento de polos regionais de bioenergia, com impactos positivos sobre emprego, renda e logística;
- Contribuição significativa para os compromissos climáticos do Brasil em fóruns internacionais como a COP-30.
A escalabilidade também fortalece a economia circular, integrando cooperativas de catadores, agroindústrias e cadeias logísticas locais, além de estimular a produção de alimentos acessíveis a partir do uso do CO₂ capturado no processo industrial.
Ferramentas de Análise Econômica e Estratégica
Simulação de Monte Carlo
A Simulação de Monte Carlo é empregada para avaliar os riscos financeiros do projeto de forma probabilística. Essa técnica permite modelar milhares de cenários, considerando variações em variáveis críticas como CAPEX, OPEX, preços do biodiesel, créditos de carbono e produtividade. Os resultados oferecem distribuições de TIR, VPL e Payback, indicando não apenas valores médios, mas também a probabilidade de superação da Taxa Mínima de Atratividade (TMA).
Importante ressaltar que essa ferramenta já demonstrou sua robustez ao apontar a previsibilidade de fracasso de empreendimentos similares, como no caso da Raízen, onde os cenários de Simulação de Monte Carlo anteciparam a possibilidade de VPL negativo. Isso evidencia a importância de análises probabilísticas para evitar decisões equivocadas e prevenir perdas significativas em grandes investimentos.
A Simulação de Monte Carlo é pilar essencial da análise de risco do projeto:
- Curva de probabilidade da TIR: milhares de iterações produzem uma distribuição probabilística, mostrando não apenas a TIR média esperada, mas também a probabilidade de superar a TMA;
- Sensibilidade às variáveis críticas: identifica os fatores que mais impactam a rentabilidade, como produtividade do biodiesel e preços de mercado;
- Matriz de Risco: fornece parâmetros quantitativos que permitem classificar riscos por impacto e probabilidade, subsidiando planos de mitigação;
- Análise SWOT: apoia a construção de uma SWOT realista, quantificando pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças com base em dados probabilísticos.
A Análise SWOT combina dados probabilísticos da Simulação de Monte Carlo com fatores estratégicos de mercado:
Matriz de Risco
A Matriz de Risco complementa a análise probabilística, identificando os principais riscos do projeto, classificando-os por impacto e probabilidade, e definindo estratégias claras de mitigação. Exemplos:
- Risco de demanda: mitigado por contratos de venda e diversificação de mercados;
- Risco cambial: mitigado por hedge e compras antecipadas;
- Risco tecnológico: mitigado pela escolha de rotas já comprovadas e parcerias com fornecedores especializados.
Essa abordagem garante maior resiliência do projeto, mesmo em cenários adversos.
Análise SWOT
A Análise SWOT combina dados probabilísticos da Simulação de Monte Carlo com fatores estratégicos de mercado:
- Forças (Strengths)
- Projeto inovador com integração biodiesel + hidrogênio verde.
- Indicadores financeiros sólidos mesmo sem receitas adicionais (créditos de carbono, recicláveis, gate fee).
- Produção localizada reduz custos logísticos e pegada de carbono.
- Forte componente social: alimentos a preço simbólico e doação de recicláveis.
- Apoio político-institucional potencial via PAC e PPI.
- Fraquezas (Weaknesses)
- Alta sensibilidade a produtividade e preço do biodiesel.
- Complexidade tecnológica da eletrólise para hidrogênio verde.
- Payback relativamente longo (7–9 anos), exigindo investidores de perfil paciente.
- Dependência de políticas fiscais estáveis para maximização da TIR.
- Oportunidades (Opportunities)
- Crescente demanda mundial por combustíveis sustentáveis e hidrogênio verde.
- Potencial de exportação e integração em cadeias globais de energia limpa.
- Inserção estratégica na COP30 fortalece visibilidade internacional.
- Geração de empregos verdes e fortalecimento da economia circular.
- Atração de fundos verdes e multilaterais com juros competitivos.
- Ameaças (Threats)
- Concorrência de projetos baseados em etanol 2G ou SAF de biomassa agrícola.
- Queda abrupta nos preços internacionais de energia.
- Mudanças regulatórias e fiscais imprevistas.
- Risco tecnológico de falhas na integração entre processos (RSU → biodiesel/hidrogênio).
- Resistências políticas locais ou disputas entre municípios na destinação do RSU.
Essa metodologia assegura confiabilidade e transparência, dando aos investidores maior clareza sobre a robustez do projeto frente a cenários incertos. Essa visão integrada fortalece a tomada de decisão e orienta estratégias de longo prazo para garantir a sustentabilidade do projeto.
O Papel das Políticas Fiscais e Incentivos
A viabilidade plena exige isenções fiscais, incentivos e regulamentações adequadas. Esses instrumentos não representam custos, mas investimentos estratégicos em sustentabilidade. A experiência nacional e internacional mostra que a redução equilibrada de impostos estimula a atividade econômica, amplia a base tributária e fortalece o setor de energias renováveis, criando um ciclo virtuoso de crescimento.
No setor de energias renováveis, os exemplos são claros. A fase embrionária das fontes fotovoltaica e eólica só ganhou força graças a políticas de isenção e incentivos fiscais, que reduziram o CAPEX, estimularam a inovação tecnológica e tornaram essas fontes competitivas frente aos fósseis.
Para que esse ciclo virtuoso se mantenha, é preciso uma política fiscal ajustada ao ciclo de vida dos empreendimentos, com incentivos mantidos até a maturidade e retirados de forma gradual. Também é indispensável adotar procedimentos regulatórios previsíveis e menos burocráticos, de modo a acelerar licenciamentos e reduzir entraves administrativos.
A Curva de Laffer
A Curva de Laffer demonstra que aumentar impostos não garante maior arrecadação. Após certo ponto, a carga excessiva gera redução de investimentos, evasão fiscal e desemprego. A redução equilibrada, ao contrário, estimula a economia, incentiva a inovação tecnológica e fortalece setores
estratégicos como o de energias limpas, tornando o país mais competitivo globalmente.
Chamado à Ação
A COP-30 é o momento de alinhar interesses públicos e privados em torno da transição energética. O Brasil tem a oportunidade de consolidar-se como líder global em soluções climáticas urbanas, unindo crescimento econômico, preservação ambiental e inclusão social. Para tanto, é fundamental que políticas públicas avancem de forma previsível, transparente e com foco no desenvolvimento sustentável.
Por fim, o texto lança um chamado à classe política: é hora de superar interesses partidários e agir em benefício do país. Políticas públicas devem estar orientadas ao desenvolvimento social, à criação de empregos e à melhoria da renda. Só assim será possível consolidar o Brasil como líder global na transição energética, unindo crescimento econômico, preservação ambiental e inclusão social.
Expertise da DBEST PLAN
A DBEST PLAN – Engenharia e Tecnologia da Informação possui expertise única em estudos de viabilidade econômica e financeira de projetos de energia limpa, com metodologias próprias que unem análise de risco via Simulação de Monte Carlo, construção de Matriz de Risco e aplicação da Análise SWOT.
Sob liderança do Eng. Sebastião Carlos Martins, a empresa se diferencia pela capacidade de entregar estudos completos em prazos extremamente reduzidos, sem perder rigor técnico, oferecendo resultados confiáveis a investidores, financiadores e órgãos públicos. Essa competência técnica e multidisciplinar permite à DBEST PLAN interagir com diferentes stakeholders e apoiar a estruturação de projetos de energia limpa de forma segura, transparente e orientada ao sucesso.
Conclusão
A integração de ferramentas robustas de análise (Monte Carlo, Matriz de Risco e SWOT) demonstra que o projeto de URE de 2.300 toneladas/dia é não apenas viável, mas estratégico para o Brasil. Ele combina alta atratividade financeira com impacto ambiental e social de grande escala, além de contribuir diretamente para a segurança energética do país e para a transição rumo a uma economia de baixo carbono.
Por Sebastião Carlos Martins
* O autor é Engenheiro Eletricista formado pela UFRGS em 1971, foi professor universitário e atuou em grandes projetos de siderurgia e mineração no Brasil. Possui conhecimentos em Direito Tributário, Contabilidade, Economia e Auditoria. Nos últimos seis anos, se dedica a estudos de viabilidade econômica e financeira para usinas eólicas, fotovoltaicas e unidades de recuperação de energia a partir de RSU, aplicando a Simulação de Monte Carlo.