Após enfrentar uma depressão profunda pela morte do avô, sua maior referência, a líder indígena Katyana Xipaya, de 38 anos, encontrou força na ancestralidade e no amor pela terra para transformar o luto em cura e o legado da família no primeiro chocolate indígena do médio Xingu, no Pará.
Do cacau ao chocolate indígena
Com as sementes que o avô Miguel cultivava há décadas, Katyana criou o chocolate Sídjä Wahiü que, na língua xipaia-kuruaya, significa “mulheres guerreiras”. Produzido com 72% de cacau e frutas desidratadas como banana, abacaxi e pitaia, o produto é 100% indígena, sem glúten, sem lactose e feito a partir de técnicas tradicionais da comunidade.

O logo da marca, inspirado em uma figura rupestre da região que aparece durante a seca e se esconde nas águas na cheia, simboliza o sol força vital para os povos da floresta. Ele é cercado por traços que representam o cocar e as margens do rio Xingu.
Frutas desidratadas e agrofloresta como fonte de renda
Usando o conhecimento ancestral da desidratação de alimentos antes apenas para consumo próprio Katyana enxergou uma oportunidade de gerar renda para as 4 famílias da comunidade Jericoá 2. Hoje, as frutas cultivadas em sistema agroflorestal ajudam a sustentar os moradores e valorizam os saberes tradicionais.
Empreender como forma de cura
Mesmo com o apoio médico no tratamento da depressão, foi na floresta, no trabalho coletivo e na memória do avô que ela encontrou a verdadeira cura: “A cura estava em mim”, conta. Com o apoio da família e do filho, que estuda agronomia, ela passou a liderar o empreendimento com força renovada.
Legado que inspira outras comunidades
A Sídjä Wahiü impulsionou a criação de outras quatro marcas de chocolate indígena em comunidades da região, beneficiando mais de 100 famílias. Hoje, os produtos são vendidos por encomenda, em feiras e também por meio da CacauWay, plataforma de negócios sociais que promove a produção sustentável na Amazônia.
Imagem: Divulgação