Muitas profissões têm ficado cada vez mais raras ou, simplesmente, deixaram de existir no Brasil e várias outras parte do mundo em função da tecnologia, da qualificação e uma série de outros argumentos. É o caso, por exemplo, do motorneiro, que era o condutor de bonde no começo do século passado. Hoje, o que não seria possível nem se imaginar, acontece com a profissão do mecânico de bicicleta. Tem muita oficina de bike, tem milhões de bicicletas circulando por todo o mundo, no entanto, o profissional que cuida dessas máquinas está ficando raro, especialmente na cidade de Belém.
Há muitas oficinas, mas é difícil encontrar o mecânico especializado em consertos de bicicletas. A reportagem do Jornal A PROVÍNCIA DO PARÁ foi atrás de depoimentos que expliquem o que está acontecendo.
A opinião geral é que os mecânicos, agora, preferem trabalhar com motos, cujo mercado cresce a cada dia e é mais rendoso. Dizem os profissionais que as oficinas de bicicletas pagam pouco e que, no final, acaba não compensando mais trabalhar com as bicicletas, não obstante as pessoas estejam sendo incentivadas a usá-las por questões de saúde e de preservação do meio ambiente.

Segundo o mecânico de bicicletas João Luiz Medeiros, 61 anos, há 20 anos no mercado, o que acontece é que o retorno financeiro é pequeno.
“A gente ganha pouco demais. A gente trabalha o dia todo e, às vezes, não consegue nem o da bóia. Eu quero tirar umas férias, mas não consigo uma pessoa pra me substituir”, explica Medeiros, mais conhecido por João da Bike, que trabalha em uma oficina de bicicletas localizada na feira da Bandeira Branca, divisa dos bairros do Marco e Souza.
Conforme João da Bike, o trabalho com bicicleta é prazeroso, cirúrgico, de fáceis resoluções, uma arte passada de pai pra filho. “Mas hoje os jovens não querem mais saber de bicicleta, de conserto; eles preferem mexer com moto, que ganha bem mais”.

Assim, diz João da Bike que essa é uma profissão em extinção. Até porque, diz não haver escolas especializadas em preparar mecânicos para mexer com bicicletas que estão ficando cada vez mais modernas. “Essas bikes novas, não é todo mundo que sabe mexer, embora a constituição delas seja praticamente a mesma”, explica.
Já o mecânico de bicicletas Sérgio Teixeira concorda com João da Bike, mas diz que o mercado também está difícil para arrumar emprego, seja pela questão dos acertos financeiros, seja pela competência do profissional. “Faltam muitos direitos, mas há muitas cobranças. Tem gente que marginaliza a profissão e isso não é certo, afinal, quem sabe mexer com essas máquinas somos nós e temos de ser respeitados em todos os sentidos. A remuneração é pouca demais. A gente se esforça, faz o melhor e, no entanto, não compensa”, diz.
Tanto João da Bike quanto Sérgio explicam que essa é uma profissão que precisa ser valorizada, afinal, se não tem mecânico, como as pessoas vão fazer para andar em suas bicicletas, considerando-se o desgaste de peças, a substituição, ajustes e manutenção?
Por ROBERTO BARBOSA/Jornal A PROVÍNCIA DO PARÁ/Imagens: Nazaré Sarmento/Ronabar
