Li muitos artigos e crônicas do jornalista Armado Nogueira, publicados em vários jornais brasileiros, entre os quais, em nosso Estado.
Armando nasceu em Xapuri/AC (14/01/1927) e faleceu no Rio de Janeiro (29/03/2010), para onde mudou-se ainda adolescente e ali formou-se em Direito e ingressou no jornalismo, inclusive no telejornalismo, principalmente no esportivo, estando presente nas Copas do Mundo a partir de 1954.
Em 2001 escrevi, mas não enviei, uma carta para Armando.
Remexendo meus guardados encontrei a tal carta datada de 13 de outubro daquele ano, cujo texto vem a seguir:
Armando, não sou, como gostaria de ser, por falta de tempo, teu leitor assíduo.
Para demonstrar minha admiração e mostrar que te leio sempre que posso, recordo aqui trechos de teus artigos, crônicas peroladas de versos à Leila (vôlei), Paula e Hortência (basquete) e outras musas do esporte nacional. Lembro também que falaste daquele uruguaio, Obdúlio Varela, que ajudou a emudecer o Maracanã na célebre final da Copa de 50 e que passou a noite solitário e anônimo, bebendo, após ter ganho um título, sem tamanha importância para ele, mas que seria grandioso para nossos patrícios, gerando incontáveis lamentos.
Lembro também, e difundo tuas teses, uma delas, de que algumas jogadas e lances geniais não são executados ao acaso, porque foram programados, ensaiados, treinados exaustivamente e quando chega o momento certo, são colocados em prática deslumbrando o espectador.
Um exemplo foi o diálogo entre o preparador físico Paulo Amaral e o jogador Didi ao apanhar este fumando de madrugada, deitado em sua cama no alojamento da seleção, na Suécia, véspera da final de 1958, contra os donos da casa, que disse estar bolando algumas jogadas para Garrincha. Lembras?
Mas, o motivo desta missiva, se já não esquadrinhaste antes este texto, é trazer à tona alguém a quem nunca vi ser lembrado (pode ser que eu ainda não tenha tido a oportunidade de vê-lo), nem entrevistado, meio esquecido e nem qualquer matéria a seu respeito. Alguém que povoa minha infância e se tronou (opa, queria dizer tornou, mas o lapso digital parece oportuno) o rei interino (se é que existe interinidade majestática).
Bem, pelo menos na ficção. E se não houver, faço-o agora. E por acaso. Se bem que o vocábulo “tronar”, além de significar troar, trovejar, pode ser ligado a trono, mas me parece adequado, quando significa também imperar, dominar.
O já “rei do futebol” adoecera e lá se foi um de seus súditos, um príncipe que o substituiu por acaso à altura. Era grande a expectativa em torno de Pelé na Copa do Chile. Havia concursos para saber quantos gols ele faria, entre os quais, como prêmio uma bicicleta da marca que Pelé anunciava e que provavelmente ninguém ganhou porque ele acabou marcando apenas um, na estreia do Brasil contra o México, e se contundiria na segunda partida, contra a Tchecoslováquia.
Acabara o encanto da seleção quando foi noticiado que Pelé não jogaria mais o restante daquela copa.
Lembro que eu dormia, ainda com 10 anos, lá em Maracanã minha terra natal, naquela tarde de junho de 1962, quando acordei com barulho de fogos e um nome diferente que era pronunciado por muitos torcedores que acompanharam o jogo pelo rádio, sílaba à sílaba: Aaaaaa-maaaaaaa-rilllllllllllllllllllll-dooooooooooooo, repetidas vezes. Fora quem fizera os dois gols salvadores, e de virada contra a Espanha, necessários a levar o escrete canarinho prosseguir na competição e que na final contra a mesma seleção com a qual o Brasil empatara sem gols e perdera Pelé, deixaria seu gol na rede adversária.
Afinal a falta do rei não foi muito sentida!

Penso que Amarildo viajou certo de trazer a faixa de bi-campeão, sem jogar. Mas jogou. Substituiu o rei. E fez gols. Nem assim vejo seu nome recordado e alçado em destaque à galeria dos campeões, como outros.
Você, Armando, com sua prodigalidade de cronista, se não quiser ocupar tanto espaço, qualquer que seja ele, será suficiente para alçar o protagonista deste texto, ao panteão ocupado por Pelé, Garrincha, Didi, Zagalo e outros que fizeram história de nossa saudosa seleção, quando ganhou pela segunda vez a Copa do Mundo.
Fale alguma coisa, com as suas valiosas e deslumbrantes manifestações sobre esse tão ilustre quanto esquecido herói.
Um abraço amazônida!
13/10/2001
Por: Roberto Pimentel (pimentelrm@yahoo.com.br)
*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, especializado em meio ambiente, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ








