Nas próximas semanas, 135 cardeais eleitores vão se reunir na Capela Sistina, no Vaticano, para escolher o sucessor do Papa Francisco no comando da Igreja Católica. Esse processo, conhecido como conclave, é cercado de expectativa e especulações. Cardeais que aparecem como favoritos a ocupar o trono de Pedro recebem o apelido de “papabile” expressão italiana que significa “papável”.
Apesar das apostas, a tradição vaticana é cautelosa: “Quem entra no conclave como papa, sai como cardeal”. Ou seja, a eleição é imprevisível, e favoritos nem sempre vencem.
Especialistas observam uma tendência histórica de alternância entre perfis de papas: líderes carismáticos e midiáticos são geralmente seguidos por figuras mais discretas e administrativas. Foi assim com João Paulo II, seguido por Bento XVI, e com João XXIII, sucedido por Paulo VI.
Segundo Filipe Domingues, doutor em Ciências Sociais e especialista no Vaticano, Francisco representou um momento de ruptura e impulso reformista, mas agora o momento pede consolidação: o próximo papa deve dar continuidade às reformas, ajustando e pacificando a Igreja.
Contexto atual: continuidade e unidade
O cenário atual é de grande transformação interna na Igreja, com tensões entre diferentes alas. Como afirma o sociólogo Francisco Borba, da PUC-SP, tentar reverter essas mudanças seria desastroso. Por isso, o futuro papa precisa unir os católicos e dialogar com um mundo cada vez mais complexo e polarizado.
Segundo Roberto Regoli, historiador da Pontifícia Universidade Gregoriana, os dois grandes desafios do próximo pontífice serão manter a unidade interna da Igreja e posicioná-la diante dos embates geopolíticos globais.
O perfil dos eleitores
Entre os 135 cardeais eleitores, 108 foram escolhidos por Francisco, 22 por Bento XVI e apenas 5 por João Paulo II. A maioria vem da Europa (53 cardeais), seguida por Ásia, América do Sul, África, América do Norte, América Central e Oceania.
Essa diversidade cultural e geográfica torna o conclave imprevisível. Cada cardeal vota individualmente, priorizando as necessidades da Igreja e buscando uma autoridade moral, não em uma lógica partidária.
Principais “papabili”
Confira os nomes mais citados entre especialistas:
Pietro Parolin (Itália), Atual Secretário de Estado do Vaticano, é experiente em diplomacia, foi peça-chave na reaproximação entre EUA e Cuba. Apesar da forte formação diplomática, é criticado por falta de experiência pastoral e por polêmicas administrativas.
Matteo Zuppi (Itália), Presidente da Conferência Episcopal Italiana e membro da Comunidade de Santo Egídio, atuou em negociações de paz, como o fim da guerra civil em Moçambique. É considerado próximo do estilo pastoral de Francisco, com forte capacidade de mediação.
Pierbattista Pizzaballa (Itália) Patriarca Latino de Jerusalém, viveu a realidade dos conflitos no Oriente Médio, conhecido por forte espiritualidade e apelos pela paz, principalmente após a guerra entre Israel e Hamas.
Luis Antonio Tagle (Filipinas) Ex-arcebispo de Manila, hoje em um cargo estratégico na Cúria Romana, conhecido como o “Francisco asiático”, tem forte atuação junto aos pobres e imigrantes. Apesar do prestígio, enfrentou problemas administrativos na Caritas Internacional.
Outros nomes citados:
Jean-Marc Aveline (França)
Mario Grech (Malta)
José Tolentino de Mendonça (Portugal)
Robert Francis Prevost (EUA)
Arthur Roche (Reino Unido)
Peter Erdő (Hungria) e Robert Sarah (Guiné) são nomes que agradam a ala conservadora, mas têm poucas chances diante da composição atual do Colégio de Cardeais.
E os brasileiros?
Desta vez, os cardeais brasileiros não aparecem entre os favoritos. O nome mais citado seria Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador, mas especialistas apontam que a escolha de outro latino-americano tão logo após Francisco é pouco provável.
Com informações Portal CNN
Imagem: Mazur