Do morango do amor aos brigadeiros gourmet, passando pelos bolos de pote e ovos de Páscoa recheados, o Brasil já viveu diversas “febres” de doces. Mas por que o brasileiro tem uma relação tão intensa com o açúcar?
Uma história que vem da colonização
A cana-de-açúcar, originária da Papua-Nova Guiné, foi cultivada há cerca de 10 mil anos e se espalhou pelo mundo. No século 14, Portugal investiu nas primeiras grandes plantações na Ilha da Madeira, levando o modelo ao Brasil no século 16.
Na colônia, o açúcar virou a principal commodity, produzido em larga escala com mão de obra escravizada. Essa fartura ajudou a transformar o paladar local: receitas antes adoçadas com mel passaram a usar açúcar, influenciando bolos, compotas e a própria doçaria conventual, herança da culinária portuguesa.
Influências africanas e indígenas
Além dos portugueses, africanos e indígenas também marcaram o gosto nacional. Preferiam a doçura natural da cana, do mel e de frutas como cupuaçu, açaí e caju.
O leite condensado: revolução doce
No século 20, a industrialização trouxe novidades como refrigerantes, biscoitos recheados e o leite condensado, que virou estrela das sobremesas brasileiras.
Presente em 94% dos lares, segundo pesquisa, ele está em cerca de 60% das receitas doces do país. Sua praticidade e sabor agradam tanto que vai do brigadeiro ao pudim, passando por mousses e pavês.
Curiosamente, no início, era vendido como substituto do leite para crianças algo hoje desaconselhado por especialistas.
Açúcar na política e no cotidiano
O próprio brigadeiro nasceu em 1945 como doce de campanha eleitoral para o candidato Eduardo Gomes. Décadas depois, o leite condensado voltou ao noticiário em meio a polêmicas sobre gastos do governo federal.
Culturalmente, o doce no Brasil tem função social: é presente em visitas, comemorações e até em momentos de condolência.
Somos mais doces que o resto do mundo?
Comparações mostram que sim. Receitas brasileiras costumam levar cerca de 50% mais açúcar que versões de outros países. Um bolo de cenoura, por exemplo, pode ter o dobro de açúcar da receita inglesa.
Quanto consumimos?
O brasileiro ingere, em média, 80 g de açúcar por dia 50% acima do recomendado pela OMS. É um dos maiores índices do mundo, ao lado de EUA, Rússia e México.
Nos anos 1930, eram 15 kg por pessoa por ano. Hoje, são cerca de 65 kg.
O lado amargo do excesso
O consumo elevado está ligado a problemas como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Especialistas recomendam moderação: reduzir aos poucos o açúcar adicionado, evitar ultraprocessados e resgatar o sabor natural dos alimentos.
Imagem: Arte Redação