O Papa Francisco, falecido nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, deixa um legado marcante de compromisso com a ecologia e com os mais vulneráveis, segundo avaliação do cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília. Em coletiva de imprensa, dom Paulo destacou que o pontífice argentino colocou o cuidado com o meio ambiente e os pobres no centro de seu pontificado.
“O nome que escolheu já era um sinal. Francisco, em referência a São Francisco de Assis, expressa esse amor à natureza e à fraternidade”, afirmou o cardeal. Um dos principais marcos do papa nesse campo foi a publicação da encíclica Laudato Si, em 2015, que alertou para os efeitos da industrialização desenfreada e propôs um olhar contemplativo sobre o planeta como dom divino.
Além da pauta ambiental, o pontífice também será lembrado pela defesa dos migrantes, a crítica às guerras e o trabalho pela transparência e combate aos abusos dentro da própria Igreja. “Ele dizia que o Mar Mediterrâneo não poderia ser um cemitério de pessoas”, relembrou dom Paulo, referindo-se às constantes tragédias com refugiados na região. “Era um papa que percebia o horror da guerra como falência da humanidade.”
Francisco também teve papel ativo no combate à pedofilia dentro da Igreja, criando, ainda em 2013, a Comissão de Proteção à Criança do Vaticano. Para o arcebispo de Brasília, essa atuação representa uma mudança profunda e necessária. “Não tem que ter tolerância nenhuma”, afirmou.
Dom Paulo, que foi nomeado cardeal por Francisco em 2022, revelou ainda ter convidado o papa para visitar Brasília este ano, por ocasião dos 65 anos da Arquidiocese e da preparação para a COP30, que acontecerá em novembro, em Belém. “Se tivesse condições, tenho certeza de que ele viria”, disse, emocionado. “Parece que perdemos um pai.”
Com a morte do papa, o Vaticano iniciará um período de luto de nove dias, ao final do qual os cardeais darão início ao conclave para a escolha do novo pontífice. Dom Paulo viajará ao Vaticano na sexta-feira (25) para participar do processo. Apenas os cardeais com menos de 80 anos podem votar na fase decisiva, realizada na Capela Sistina.
Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida (SP) e integrante do conclave de 2013 que elegeu Francisco, também participou da coletiva. Ele lembrou que 80% dos cardeais votantes foram escolhidos pelo próprio Francisco, o que deve influenciar na continuidade de sua linha pastoral. “Ele deixa um grande legado. Agora, rezamos para que o próximo papa possa continuar essa missão de evangelização diante dos desafios do mundo atual.”
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