sexta-feira, junho 6, 2025
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Folhas de cacau viram arma contra o plástico: mulheres ribeirinhas da Amazônia inovam na luta ambiental

Na Ilha do Combu, a apenas 1,5 km de Belém (PA), um grupo de mulheres extrativistas encontrou uma alternativa criativa e sustentável para combater a poluição plástica que assola os rios amazônicos: transformar folhas de cacau em embalagens biodegradáveis.

Diante do acúmulo de lixo nas margens do rio Guamá  que já soma mais de 150 mil toneladas retiradas apenas entre janeiro e abril deste ano, segundo a Prefeitura de Belém  as integrantes da Associação de Mulheres Extrativistas da Ilha do Combu (AME) decidiram agir. Combinando saberes ancestrais com orientação técnica, elas passaram a coletar manualmente folhas de cacau, tratá-las com fervura, lavagem e secagem natural, até que se transformem em embalagens ecológicas.

“Poderíamos comprar sacolas prontas, seria mais fácil. Mas precisamos cuidar de onde vivemos. A floresta cuida da gente, então precisamos retribuir isso”, explica Rosineide Trindade, integrante da AME.

O processo, que já ocorre há cerca de três anos, foi aperfeiçoado com o apoio de voluntários: advogados, químicos e pesquisadores se somam à causa, admirados pela inovação local. Para a professora Sury Monteiro, diretora da Faculdade de Oceanografia da UFPA, a iniciativa é um exemplo de como o conhecimento tradicional pode gerar soluções eficazes para a crise ambiental.

“Valoriza o que é local e mostra que é possível gerar renda cuidando do meio ambiente”, afirma a especialista.

Enquanto o Pará lidera a produção nacional de cacau, a Ilha do Combu mostra que o fruto pode ir além do chocolate. As folhas, antes descartadas, agora embalam produtos naturais como sabonetes e óleos, feitos artesanalmente pelas mulheres da AME.

A crescente atividade turística na ilha que saltou de 3 para 60 empreendimentos entre 2000 e 2023  trouxe não só desenvolvimento, mas também desafios. O turismo predatório, com descarte irregular de lixo e desmatamento, tem transformado a paisagem local. “O que antes era verde e silencioso agora dá lugar a construções e muito lixo que nem é nosso”, lamenta Dayane Sarmanho, uma das associadas.

Para a professora Sury, a contaminação da água por microplásticos já afeta toda a cadeia alimentar, chegando aos peixes e, consequentemente, à mesa dos moradores. Ela reforça que soluções como a da AME são fundamentais, pois respeitam o ecossistema e mostram que ciência e ancestralidade podem caminhar juntas.

“Antes de haver centros urbanos, essas comunidades já existiam, cuidando desse ambiente. É urgente que a sociedade se conecte aos saberes das populações tradicionais”, conclui.

A experiência da AME inspira outras comunidades amazônicas e revela que, na floresta, também brotam respostas inteligentes, sustentáveis e profundamente enraizadas na cultura local.

Imagem: Carolina Mota

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