Hellen se consolidou como gestora esportiva em transferências internacionais do único irmão e agora trilha caminho de forma independente
Os números estão “fresquinhos” na cabeça de Hellen – são 7.558 empresários licenciados pela Fifa, mas apenas 5% são mulheres. E e a irmã do lateral-esquerdo do Botafogo Alex Telles é uma delas desde 2023. O casal de filhos de José e Claudete, nascidos em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, ajudaram um ao outro desde os primeiros passos dele como jogador.
A trajetória de parceria foi “profissionalizada” quando ele saiu do Brasil, em 2013, em transferência do Grêmio para o Galatasaray, da Turquia. Hellen se viu na necessidade de cuidar do “CNPJ” do irmão à distância e traçar os passos da sua carreira.
Mas a virada de chave para gestão esportiva aconteceu nas primeiras transferências na Europa em que ela se viu sentada à mesa de clubes como Manchester United e, posteriormente, no Al-Nassr. A transação do lateral ao clube inglês, em 2020, custou quase R$ 100 milhões. Para o clube saudita, a ida foi em 2023.
– Me marcaram (as duas transferências) porque foram as primeiras em que participei mais ativamente. Participei do processo, das reuniões, dos documentos, dos números e negociações desse jogo de xadrez que são as negociações do futebol. Teve no meio a negociação com o Sevilla, de empréstimo, mas os movimentos de transferência geralmente são os mais complexos. Então, eu consegui participar, vivenciar e criar lições que eu levo pra minha carreira inteira.
A paixão da família pelo esporte sempre esteve presente e o acompanhamento da rotina do irmão fez com que ela transitasse pelos bastidores e pegasse gosto – e conhecimento – pela nova profissão. Hoje, ela não se vê fazendo outra coisa e diz que a influência – e ajuda – do irmão foi fundamental.
– Ele me proporcionou toda a aprendizagem que eu precisava, foi enchendo o meu “caminhãozinho” de conhecimento, e eu pude ir usando isso construindo a carreira dele. Fomos estabelecendo passo por passo quais eram os movimentos que a gente gostaria de fazer, tudo baseado nessa estratégia elaborada por nós. E, no final de tudo, deu essa carreira maravilhosa que ele tem hoje. Irrepreensível, que sai de um Juventude e hoje está no Botafogo construindo, conquistando títulos inéditos e tendo uma carreira que é admirada por todos – declarou Hellen.
Foram dez anos de parceria, encerrada recentemente com foco na expansão de carreira. Hoje, Hellen trabalha mais com o mercado internacional, em projetos de clubes e entidades voltados para o Exterior – inclusive, é a representante do Juventude fora do Brasil.
Ser apenas 5% do total de agentes Fifa é motivo de orgulho para a profissional, que se distancia da fala sobre resistência nos bastidores da bola, mas levanta a bandeira para ser referência para que novas mulheres queiram ocupar esse espaço – assim como Leila Pereira, presidente do Palmeiras, uma de suas referências.
O fato de ser mulher é, sim, curioso. Faz com que as pessoas te deem espaço pra estar nos ambientes, mas só a sua bagagem, portfólio e experiência te mantém sentado nessa mesa. Tive a oportunidade de sentar com muitos dirigentes lendários, de participar de negociações que eu guardo com muito carinho até hoje, como movimentos para o Manchester United, Al-Nassr. Hoje eu consigo sentar na mesa de muitos desses dirigentes, que me recebem com respeito e credibilidade por conta do meu comportamento e da forma competente com que eu conduzi as coisas nessas experiências anteriores.
Muito mais que um sobrenome ou uma carreira construída baseada na carreira brilhante do meu irmão, hoje eu consigo usar tudo isso como base e referência pra que eu construa minha própria carreira e meu próprio nome no mundo do futebol.
Apesar de morar em São Paulo e não estarem mais trabalhando juntos, Hellen e Alex seguem muito próximos e mantém contato quase que diário. Ela acompanha o irmão quando pode e tem as conversas em família pautadas por futebol.
Na campanha do título da Libertadores, em 2024, ela e os pais assistiram à classificação diante do São Paulo, no Morumbis, no meio da torcida do Botafogo. Para acompanhar a final em Buenos Aires foi difícil, mas deu certo, assim como a carreira do irmão. Marcou presença na conquista da Libertadores, na Argentina.
– Eu estava na Inglaterra, peguei um voo no dia 29 e cheguei direto para o jogo no dia 30. Lembro de ter chegado ao hotel duas horas antes do jogo, foi só o tempo de ir até o estádio. Chegando ao estádio, encontrei meus pais, a família do Alex, assistimos e comemoramos juntos. Foi um momento muito especial e muito histórico para a nossa família, até por causa dessa volta dele para o Brasil depois de 10 anos fora, e logo nesse momento de volta ter essa conquista histórica, ser um dos personagens principais dessa conquista enche a gente de orgulho. A trajetória dele desde o início sempre foi motivo de orgulho e vai continuar sendo – finalizou.
Foto Destaque: Arquivo pessoal
Reprodução: Ge
