Quando eu era criança e chegava o final do mês novembro, os vizinhos da minha rua iam às lojas para comprar suas árvores de Natal, mas minha família, que nunca foi como a dos outros, não.
Tínhamos um ritual particular, gravado indelevelmente em meu coração: papai, eu e meu irmão Hermom íamos de casa (no conjunto Cohab, Marambaia) até à mata da Marinha, distante algumas quadras, hoje fechada por um grande muro, em busca do galho que se tornaria a nossa árvore natalina.
O dia escolhido por papai, sempre num final de semana, era ansiosamente aguardado por mim e Hermom.
Quando ele anunciava, sempre de véspera, sobre a aventura, nem dormíamos direito de tanta ansiedade e emoção.
Na manhã do dia escolhido, tomávamos nosso café reforçado e saíamos os três, em busca do galho especial.
Mamãe ficava em casa preparando todo o material que seria usado para adaptação da nossa árvore.
Saíamos em nossa missão sendo observados por alguns vizinhos. Talvez pensassem que éramos loucos.
Papai, o líder da missão, nascido no interior, onde passou parte de sua infância, até encontrarmos o galho ideal, aproveitava para ensinar sobre muitas coisas, tal como sobrevivência na selva.
Era um dia especial! Aliás, foram dias especiais, pois por vários anos a peripécia se repetiu.
Uma vez avistado o alvo, papai cortava-o com o terçado levado para isso e retornávamos, como nos filmes americanos, felizes e nos sentindo vitoriosos com a aquisição alcançada.
Voltávamos para casa com a sensação de vitória.
Mamãe então limpava o galho escolhido, pintava, e plantava num vaso simples, às vezes numa lata cheia de areia, revestida com papel laminado, para que começássemos a segunda etapa da missão: decorar a árvore.
Envolvíamos os galhos em algodão, para parecer uma árvore nevada, e em seguida enchíamos cuidadosamente de bolas de vidro (sim, as bolas de antigamente eram feitas de um vidro finíssimo, que, se caísse no chão, quebrava imediatamente) e outros enfeites.
Depois de um tempo decidiu-se adornar lá em casa o tradicional pinheiro das lojas.
Tive muitas árvores depois daquelas obtidas na missão descrita, mas nenhuma me deixou tão feliz como aquelas, que eram fruto de um trabalho de equipe familiar.
Obrigada, papai, mamãe e Hermom, por terem me proporcionado estas vivências. Vocês são os melhores!!!!
Texto: Robina Pimentel Viana
* Procuradora do Estado do Pará, filha de Roberto Pimentel, advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor