sexta-feira, agosto 22, 2025
Desde 1876

LITERATURA – Deixai ser criança enquanto pode

Dias atrás, quando fui à feira com meu filho Jordão, de menos de quatro anos, ele pediu para lhe comprar um celular de brinquedo. Na hora não me questionei por que ele queria um aparelho celular de brinquedo se ele já atende ao telefone real suas avós, tias e amigos. E um dos aparelhos celulares que temos foi dito que é seu e que pode atender quando quiser. Mas comprei. No retorno para casa, ele já vinha “telefonando” para amigos e pessoas conhecidas, falando coisas comuns, tais como, que iria à noite ao encontro e que estava ligando agora porque o celular estivera carregando, etc e tal.

Tenho que acrescentar que sobre ele já foi dito por uma médica que se não é superdotado ficou uma coisinha abaixo dos super e algo além nos normais. Minha conclusão é de que ele sabe o que é real e o que é lúdico, mas gosta, como quase toda criança, de brincar. Também me surpreende lidando com os controles do televisor e do DVD de forma mais natural, dando pausa quando vai tomar água, pausa quando está momentaneamente enfadado, dando alguns passos pela casa, para depois voltar ao sofá, acionar o play e voltar a assistir seu desenho ou filme. Mas tem uma coisa, às vezes ele não come sozinho, precisando que se coloque a colher em sua boca, não que ele não saiba, apenas quer que façamos isso. Se quiséssemos, já teríamos forçado a barra impondo-o sempre a comer sozinho. Mas, não. É bom que pelo menos em alguns pontos ele curta normalmente seu ciclo de criança. Isso é prazeroso pra mim.

Um dia desses, à hora do almoço, quando eu e ele estávamos à mesa, sua mãe perguntou-nos por que ele não estava comendo sozinho? Não sei se fiz errado, pois nem sempre agimos certo, mas, ao intervir, mesmo de forma amena, disse que deixasse ele com essa passageira dependência. E fui mais, em sua defesa, de que ele não dá trabalho, nos dá muitas alegrias e motivo de orgulho pelos elogios que recebemos e que ninguém pode ser perfeito; que se naquele quesito de comer sozinho ele não preenchia, em outros ele extrapolava.

Sua mãe aceitou as ponderações, pelo menos não retrucou. E essa defesa se funda no meu posicionamento de que devemos aproveitar as dádivas que o Criador nos brinda. De repente, a gente acorda e já encontra um adolescente. Então, vamos lamentar ou ter saudades daquilo que faziam ou deixaram de fazer, daquela dependência terna, quase total, coisa que passou rapidamente. Portanto, parafraseando Cristo, “pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?” (Mt 21:16), eu digo: deixai ser criança enquanto pode.

Passados mais de quinze anos, atualmente, quando vejo, principalmente em supermercados, uma mulher ou um homem com uma criança, eu pergunto se é filho e, ao obter resposta positiva eu falo para aproveitar aquela fase pueril que, de certa forma, passa rápido. Os pais riem e concordam, não sei se por gentileza. Mas concordam. E acrescento que, quando nos damos conta já são adolescentes, jovens, adultos, ficando somente as suaves lembranças, daí que precisamos aproveitar essa fase enquanto podermos.

2008

Texto: Roberto Pimentel*O autor é advogado, delegado de Polícia aposentado, radialista e escritor. Escreve toda quinta-feira neste espaço de A PROVÍNCIA DO PARÁ

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