quinta-feira, outubro 16, 2025
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Adeus a um Guardião da Cultura: Mestre Damasceno, ícone da cultura marajoara, morre aos 71 anos em Belém

Morreu nesta terça-feira (26), em Belém, aos 71 anos, o Mestre Damasceno, um dos maiores ícones da cultura popular do Pará. O artista, natural da comunidade quilombola do Salvá, em Salvaterra, no Arquipélago do Marajó, deixou um legado de resistência, alegria e criação artística que marcou gerações. O artista enfrentava problemas de saúde, incluindo pneumonia, insuficiência renal e câncer em estágio metastático, afetando pulmão, fígado e rins. Desde 22 de junho, Damasceno estava internado na capital paraense, inicialmente no Hospital Jean Bittar e, depois, transferido para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Ophir Loyola.

Coincidentemente, a partida ocorreu no Dia Municipal do Carimbó  uma data simbólica que celebra uma das expressões culturais que ele tanto valorizou.

Damasceno perdeu a visão aos 19 anos após um acidente de trabalho, mas não deixou que isso o afastasse da arte. Pelo contrário, sua trajetória foi marcada por invenção e ousadia. Foi ele quem criou o Búfalo-Bumbá, uma adaptação marajoara do tradicional bumba-meu-boi, misturando teatro popular, música, humor e a força simbólica do búfalo, animal presente no cotidiano da região. Seus espetáculos encantavam pelo colorido, pelas críticas sociais e pelo enraizamento nas tradições quilombolas.

O mestre também foi cantor, compositor e poeta oral. Fundou o Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara, lançou seis álbuns e deixou mais de 400 músicas, muitas delas retratando a vida do povo ribeirinho, a preservação da floresta e a memória das comunidades do Marajó. Uma de suas canções mais conhecidas, “Saudade do Passado”, fala sobre a devastação ambiental e serve como alerta para a necessidade de cuidar da Amazônia.

Sua arte ultrapassou fronteiras. Em 2023, foi homenageado no Carnaval carioca pela escola Paraíso do Tuiuti, e em 2025 esteve entre os compositores do samba-enredo campeão da Grande Rio, “Pororocas Parawaras”. Ele também fundou o Festival de Boi-Bumbá de Mestre Damasceno e criou o Cortejo Carimbúfalo, iniciativas que movimentam comunidades e mantêm viva a tradição cultural do Marajó.

O reconhecimento em vida foi imenso. Damasceno recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Pará em 2023, tornou-se Mestre de Carimbó pelo Iphan em 2017 e recebeu a maior honraria cultural do Brasil, a Ordem do Mérito Cultural, em maio de 2025, entregue pelo presidente Lula. Foi ainda imortalizado na Academia Marajoara de Letras, na cadeira da poesia oral. Em suas apresentações, fazia questão de incluir todos: idosos, pessoas com deficiência e comunidades inteiras tinham espaço. Sua visão de cultura era coletiva, de partilha. Em suas próprias palavras, dizia: “A alegria só é boa quando é em conjunto”.

Mestre Damasceno também foi homenageado na 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, realizada entre 16 e 22 de agosto, em Belém. O evento celebrou sua contribuição à cultura popular e à literatura oral do Marajó, com destaque para a obra “Mestre Damasceno e as Cantorias do Marajó”, de Antonio Carlos Pimentel Jr., lançada para o público infantojuvenil.

A morte de Damasceno provocou grande comoção no Pará e no Brasil. O governador Helder Barbalho decretou luto oficial, e o Ministério da Cultura publicou nota destacando o artista como “liderança inquestionável da cultura marajoara”. Bandeiras foram hasteadas a meio-mastro em sua homenagem.

Eu, como escritora e conterrânea, lembro de vê-lo ainda jovem, por volta dos meus 17 anos, carregando um paneiro de frutas na cabeça, espalhando alegria para todos ao redor. É um orgulho profundo partilhar da mesma terra que ele, Salvaterra, Marajó, e sentir que, embora Damasceno tenha partido para brilhar em outro lugar, sua luz permanece viva em nossa cultura, nas nossas tradições e na memória de cada um..

Seu ciclo na Terra chega ao fim, mas sua obra continua viva nos tambores, nas danças e nas vozes de todos que celebram a identidade amazônica. Mestre Damasceno será sempre lembrado como uma força que deu cor, ritmo e poesia a cultura.

O portal A Província do Pará manifesta profundo pesar pela partida de Mestre Damasceno e se solidariza com familiares, amigos e admiradores neste momento de dor.

Por: Thays Garcia/ A Província do Pará

Imagem: Reprodução

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