A exposição Venenosas, Nocivas e Suspeitas esteve em cartaz na Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, em São Paulo neste mês de abril. A mostra utiliza a inteligência artificial para dar vida a retratos de mulheres históricas esquecidas e às plantas que, como elas, foram estigmatizadas ao longo dos séculos.
Criada pela artista visual Giselle Beiguelman, a exposição resgatou a memória de naturalistas e curandeiras dos séculos XVII ao XIX, cujas trajetórias foram apagadas ou negligenciadas pela história oficial. Por meio de retratos gerados com auxílio da IA, Beiguelman homenageia essas figuras ao recriá-las em meio a plantas consideradas perigosas ou proibidas, muitas delas associadas a rituais, afrodisíacos e efeitos alucinógenos, principalmente em contextos femininos.
Entre as mulheres retratadas estão Maria do Carmo Vaughan Bandeira (1902–1992), primeira botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Constança Eufrosina Borba Paca (1844–1920), ilustradora que acompanhou expedições científicas ao lado do marido, o botânico João Barbosa Rodrigues; e Luzia Pinta, sacerdotisa e ex-escravizada que foi denunciada por feitiçaria e levada à Inquisição em Portugal no século XVIII.
Além de lançar luz sobre essas personagens, a exposição instigou o público a refletir sobre os impactos do colonialismo na ciência e no imaginário popular, especialmente em relação às plantas utilizadas por mulheres em práticas tradicionais. Segundo Débora Viana, gerente de Cultura do Sesi-SP, a mostra também foi uma oportunidade para jovens e crianças explorarem como a inteligência artificial vem sendo incorporada às artes visuais.
Venenosas, Nocivas e Suspeitas foi mais do que uma exposição: foi um exercício de memória e resistência, onde tecnologia e história se unem para recontar narrativas silenciadas.
Imagem: Divulgação Perfil Brasil